quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dúvida: Minha dúvida é referente a utilização da palavra todos e ou todas quando por exemplo cumprimentamos um grupo de pessoas.

"Bom dia a todos e todas" há a necessidade de utilizar no masculino e no feminino?

Todos já não se refere a todos os presentes no lugar?

E percebi também que essa expressão "todos e todas" vem sendo utilizada há pouco tempo.


Resposta:

Frequentemente nos deparamos com o surgimento de termos e expressões diferentes e ficamos em dúvida se o seu uso está correto ou não. Nos últimos anos, uma tendência em buscar um discurso politicamente correto tem causado algumas transformações na língua portuguesa, envolvendo diversos tipos de argumentos – linguísticos, históricos, etimológicos, científicos. Nesse contexto, tem se tornando comum a utilização de termos que especifiquem ambos os sexos, como "todos e todas" e "brasileiros e brasileiras", especialmente no meio político e acadêmico, fruto da mobilização de movimentos feministas que reivindicam o uso de uma língua supostamente menos machista e mais igualitária.
Entretanto, a questão remonta a um princípio gramatical do português, que não herdou do latim o gênero neutro, função exercida pelo gênero masculino. Trata-se de uma característica da língua, e não propositalmente um sinal de machismo, como apontam os defensores do uso de uma linguagem politicamente correta. É importante ressaltar que, se há sexismo em certas manifestações, o preconceito é encontrado no discurso e não apenas no uso de palavras masculinas.
Na gramática, “todos” é um pronome indefinido que indica a terceira pessoa do discurso (eles, elas, vocês), vem sempre acompanhado de um substantivo e é variável, podendo ser empregado de modo genérico e indeterminado:
Todos os dias praticamos ioga no parque.
Toda criança gosta de circo.
Todos os colegas o desprezam.
O uso de “todos”, portanto, embora seja variável, isto é, tenha masculino e feminino, faz referência a um conjunto de coisas, objetos e seres que, necessariamente, não precisam ter seu gênero explicitado, como nos exemplos:
Todos no Brasil estão preocupados com ecologia.
Todos estes costumes vão desaparecer.
Todos os participantes do jogo devem comparecer à recepção.
Não é errado usar “Bom dia a todas e todos”, porém, observe que a fala com esse tipo de repetição fica tediosa, redundante:
Bom dia a todas e todos participantes do evento.
Pedimos aos presentes e às presentes que fiquem de pé para ouvir o Hino Nacional.
Basta dizer “Bom dia a todos”, pois o masculino no plural engloba todos os gêneros, não havendo necessidade de repetir ou marcar os sexos:
Não há nenhuma regra gramatical que recrimine o uso de “todos e todas”, embora os gramáticos em geral afirmem que seu uso é exagerado desnecessário, tendo em vista que todos já inclui o masculino e o feminino, lembrando, ainda, que não podemos confundir gênero gramatical com gênero sexual.



Por Shelle Ribeiro 
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Fontes:
Cintra, Celso Cunha Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3ª edição revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37a. edição. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

Moura Neves, Maria Helena de. Guia de usos do português: confrontando regras e usos. 1ª edição. São Paulo: Editora Unesp, 2003.
"Lula agora usa 'todos e todas' em discurso" – matéria Folha de São Paulo de 29/8/2004 – 04h03
www.1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u63660.shtml Acesso: 28/10/2011.